A geografia brasileira favorece a abundância de recursos minerais, mas também impõe desafios logísticos significativos, devido às dimensões continentais do país e à predominância de uma topografia acidentada:
Por isso, a logística mineral é estratégica para a competitividade do setor, tanto no mercado interno quanto na exportação.

2.1 Ferrovia: o gigante da mineração brasileira
A ferrovia é a principal forma de transporte mineral no Brasil. Grandes volumes, longas distâncias e baixo custo por tonelada tornam o trem a escolha ideal para cargas como minério de ferro, bauxita, carvão e manganês.
Principais ferrovias minerais:
Vantagens:
- Custo logístico menor do que o transporte rodoviário
- Alta capacidade de carga
- Menor emissão de CO₂ por tonelada transportada
- Mais segurança e previsibilidade operacional
Desafios:

Apesar do custo elevado, o transporte rodoviário ainda é amplamente utilizado na mineração, especialmente para:
- Conectar a mina à ferrovia, ou ao porto, ou ao consumidor final
- Transportar minérios industriais e fertilizantes
- Escoar mineração de menor escala
Desvantagens:
- Alto custo por tonelada/km
- Impacto ambiental elevado, com destaque para a alta emissão de dióxido de carbono (CO₂), já que caminhões movidos a diesel são intensivos em combustíveis fósseis. O modal rodoviário é um dos maiores emissores de gases de efeito estufa do setor logístico, contribuindo significativamente para o aquecimento global.
- Congestionamento e desgaste das rodovias
- Rodovias malconservadas, proximidades de cidades – aumento de acidentes e perdas de carga

O transporte hidroviário de minerais no Brasil é subutilizado a quase inexistente, apesar do imenso potencial de rios navegáveis:
- Rio Tapajós (PA) e Rio Tocantins (PA): em avaliação para o transporte mineral
- Rio São Francisco: já utilizado pontualmente
- Rio Paraguai: escoamento do minério de ferro da região de Corumbá - MS
Vantagens:
- Baixo custo operacional
- Emissão reduzida de CO₂
- Alta capacidade por comboio fluvial
Limitações:
- Falta de portos e eclusas – inúmeras hidrelétricas diminuíram a navegabilidade dos rios, exigindo obras de engenharia (eclusas)
- Navegação sazonal
- Baixo investimento ou quase nenhum em infraestrutura hidroviária

Minerodutos são tubulações longa distância usados para transportar polpas minerais (mistura de minério e água).
Exemplos:
- Minas-Rio (Anglo American) – 529 km desde Conceição do Mato Dentro (MG) até o Porto do Açu (RJ)
- Samarco – dutos entre Mariana (MG) e Ubu (ES) – em torno de 400 km de extensão.
Vantagens:
- Transporte contínuo
- Baixo impacto visual e sonoro
- Baixo custo operacional
- Redução da necessidade de transporte rodoviário
Desvantagens:

A logística mineral no Brasil é marcada por corredores complexos e intermodais, que conectam minas no interior do país a portos oceânicos voltados à exportação. Cada cadeia logística é moldada pela localização geográfica da jazida, pelo tipo de minério, pelo volume de produção e pela infraestrutura disponível ou desenvolvida sob demanda.
Nesta seção, destacamos alguns dos principais cases de sucesso logístico no setor mineral brasileiro, que ilustram diferentes combinações de modais e estratégias, confira:
Vale – Projeto S11D (PA–MA)
Minério: Ferro
Localização: Canaã dos Carajás (PA) até São Luís (MA)
Extensão logística: ~972 km
Modal predominante: Correias transportadoras + ferrovia
Porto: Ponta da Madeira (São Luís – MA)
O S11D Eliezer Batista é o maior projeto de mineração da história da Vale. Entrou em operação em 2016, após quase uma década de estudos e investimentos superiores a US$ 14 bilhões. A mina adota correias transportadoras em vez de caminhões, reduzindo emissões de CO₂. O transporte ferroviário é feito pela Estrada de Ferro Carajás (EFC), também operada pela Vale, que foi modernizada para suportar o novo fluxo de carga.
Anglo American – Sistema Minas-Rio (MG–RJ)
Minério: Ferro (pellet feed)
Localização: Conceição do Mato Dentro (MG) até Porto do Açu (RJ)
Extensão logística: 529 km
Modal predominante: Mineroduto
Porto: Terminal Portuário de Açu (São João da Barra – RJ)
Operado pela Anglo American, o Sistema Minas-Rio entrou em operação em 2014 e é um dos maiores minerodutos do mundo. O investimento total superou US$ 8 bilhões. O duto atravessa 32 municípios, transportando o minério de ferro em polpa (slurry) até o litoral. Sua construção enfrentou desafios ambientais, técnicos e jurídicos, mas hoje é referência global em logística mineral de longa distância com baixo impacto rodoviário.
CBMM – Nióbio em Araxá (MG)
Minério: Nióbio
Localização: Araxá (MG) até o Porto de Santos (SP)
Extensão logística: ~800 km
Modal predominante: Rodovia + ferrovia
Porto: Porto de Santos (SP)
A CBMM (Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração) opera a principal mina de nióbio do mundo em Araxá (MG). O concentrado é transportado por rodovia até Uberaba e, de lá, embarcado na malha ferroviária da VLI (antiga FCA) rumo ao porto. A empresa atua desde os anos 1960, mas a estrutura logística atual foi consolidada entre as décadas de 1990 e 2000, com foco na exportação.
Apesar da relevância do setor mineral para a economia brasileira e dos avanços em projetos logísticos de grande escala, a cadeia de transporte mineral ainda enfrenta obstáculos estruturais significativos. Esses gargalos impactam diretamente o custo logístico, a competitividade internacional das commodities minerais e a capacidade de resposta a novos mercados e demandas ambientais.
A seguir, listamos os principais entraves que dificultam a fluidez logística da mineração brasileira — desde a origem nas jazidas até os portos de exportação:
- Malha ferroviária desintegrada e mal distribuída
- Dependência excessiva do modelo rodoviário
- Portos congestionados e com baixa capacidade mineral (competição com o agro)
- Baixa conectividade multimodal (ferrovia-porto-hidrovia)
- Burocracia alfandegária e falta de agilidade na exportação
- Pouca rastreabilidade na cadeia logística
- Falta de investimentos públicos em infraestrutura logística mineral
Diante dos gargalos estruturais e das exigências crescentes por eficiência, sustentabilidade e rastreabilidade, a logística mineral brasileira tem diante de si um campo fértil de inovação e modernização. A incorporação de novas tecnologias, a diversificação modal, o avanço das parcerias público-privadas e o alinhamento às práticas ESG abrem caminhos para um futuro mais resiliente e competitivo.
As principais frentes estratégicas que apontam para a evolução da logística mineral no Brasil incluem:


A Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL) é um dos projetos mais ambiciosos de infraestrutura logística mineral do Brasil. Seu objetivo é conectar áreas de grande potencial mineral no interior da Bahia ao litoral, oferecendo um corredor de escoamento ferroviário eficiente e competitivo para a produção de minério de ferro e outras cargas.
Características do projeto
A concessão da FIOL 1 foi assumida pela Bahia Mineração (BAMIN) em 2021, com previsão de operação comercial até 2027. Essa etapa é estratégica para o escoamento do minério de ferro extraído em Caetité, uma das maiores reservas de ferro da Bahia, atualmente, segundo o Tribunal de Contas da União, passa por uma fase de reavaliação após a BAMIN desmobilizar as obras e encerrar o contrato de construção no segmento entre Uruçuca e Ilhéus, apesar de já ter realizado investimentos significativos no projeto.
Diante dessa paralisação e do desempenho abaixo do esperado, o governo federal criou um grupo de trabalho para analisar a situação do contrato e definir os próximos passos para garantir a continuidade da ferrovia. Enquanto isso, a concessionária mantém apenas as atividades de manutenção e o cumprimento das obrigações socioambientais, deixando o futuro do trecho dependente das decisões que serão tomadas a partir dessa avaliação.
A logística mineral é a espinha dorsal da mineração brasileira. Sem ela, não há exportação, não há competitividade, não há crescimento. Transportar minérios de forma eficiente, segura e sustentável é tão importante quanto extraí-los. No Brasil, esse desafio ganha escala diante das longas distâncias, da malha ferroviária mal distribuída e da forte dependência das rodovias.
Ainda assim, há sinais de avanço. Investimentos em ferrovias interligadas, novos corredores logísticos e rotas mais sustentáveis já estão em andamento. Projetos na região Norte, por exemplo, buscam conectar áreas produtivas a portos fluviais, abrindo caminhos estratégicos para o mercado asiático. A digitalização também começa a transformar a cadeia logística: rastreamento em tempo real, análises preditivas e automação reduzem perdas e otimizam rotas.
Outros países mineradores oferecem modelos inspiradores. Austrália e Canadá apostaram em logística dedicada à mineração, com ferrovias próprias, portos automatizados e intermodalidade eficiente. Com isso, reduziram custos, emissões e riscos, tornando-se líderes em fornecimento mineral no cenário global.
O Brasil tem recursos, demanda e capacidade técnica para seguir esse caminho. Para isso, precisa acelerar obras, reduzir burocracias e incentivar parcerias entre o setor público e privado. A logística será o diferencial da nova mineração: conectada, sustentável e preparada para competir em um mercado global cada vez mais exigente.