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Mineração Sustentável: Tecnologias e Práticas que Estão Mudando o Setor

15 de Julho de 2025

Uma mina a céu aberto com duas turbinas eólicas ao fundo.

A busca por uma mineração mais sustentável não é apenas uma tendência, mas uma necessidade urgente diante das crescentes demandas ambientais, sociais e regulatórias. O setor mineral, essencial para o desenvolvimento econômico global e para a transição energética , é frequentemente associado a impactos negativos significativos, como desmatamento, contaminação de recursos hídricos, alteração da paisagem e conflitos com comunidades locais. Por isso, a sustentabilidade na mineração passou a ser um compromisso estratégico para empresas que desejam manter sua licença social para operar e garantir longevidade nos negócios.
Neste artigo, vamos explorar as principais tecnologias e práticas sustentáveis que estão revolucionando a mineração no Brasil e no mundo, e como elas apontam para um futuro mais equilibrado entre exploração de recursos e preservação ambiental. 

É realmente possível realizar uma mineração sustentável?

A resposta é sim — mas ela exige comprometimento, inovação e responsabilidade. Mineração sustentável é um conjunto de estratégias que busca reduzir os impactos negativos da atividade sobre o meio ambiente e a sociedade, sem comprometer sua viabilidade econômica. Alinhada aos princípios do ESG (Environmental, Social e Governance), essa abordagem envolve desde o planejamento inicial até o fechamento responsável da mina.

Envolve também o uso consciente de recursos naturais, como água e energia, e a adoção de sistemas de controle ambiental que garantam a proteção da biodiversidade, dos ecossistemas locais e das comunidades próximas. O conceito se apoia em pilares como eficiência no uso de recursos, gestão de impactos ambientais, valorização das comunidades locais e governança corporativa responsável.

Tecnologias que impulsionam a mineração verde

1. Reaproveitamento de rejeitos

A geração de rejeitos é, atualmente, um dos maiores desafios ambientais da mineração. Empresas inovadoras têm desenvolvido projetos para reaproveitar esses rejeitos em outras cadeias produtivas, transformando-os em resíduos. Um exemplo é a incorporação de, agora, resíduos na produção de materiais de construção, como blocos ecológicos, tijolos e cimento. Essas iniciativas fortalecem o conceito de economia circular, promovendo a valorização de subprodutos e reduzindo o passivo ambiental da atividade mineral.

 

2. Uso de energias renováveis

A substituição de fontes fósseis por fontes limpas é uma das estratégias mais eficazes para a descarbonização da mineração. Usinas solares e eólicas estão sendo implantadas dentro dos próprios complexos minerários, o que permite à empresa gerar sua própria energia limpa e reduzir custos operacionais a longo prazo.

Um destaque é o complexo solar Sol do Cerrado, da Vale, que quando em plena operação deverá suprir 16% da demanda energética da empresa no Brasil. Além disso, iniciativas como o uso de biodiesel em máquinas pesadas e o investimento em tecnologias de armazenamento de energia (baterias de longa duração) estão se tornando cada vez mais comuns.

 

3. Veículos autônomos e elétricos

A eletrificação da frota é uma solução estratégica tanto do ponto de vista ambiental quanto operacional. Veículos movidos a bateria ou hidrogênio reduzem as emissões diretas de gases de efeito estufa, além de diminuir a poluição sonora e o calor nas minas subterrâneas.

Paralelamente, a automação de veículos — como caminhões fora-de-estrada e perfuratrizes — contribui para melhorar a segurança dos trabalhadores, otimizar rotas, reduzir o consumo de combustível e aumentar a precisão das operações. Algumas minas no Brasil, Austrália e Suécia já operam com frotas 100% autônomas em determinados setores.

 

4. Sensoriamento remoto e Inteligência Artificial

A digitalização da mineração permite um controle muito mais preciso e proativo das operações. Drones, câmeras térmicas, sensores IoT (Internet das Coisas) e imagens de satélite são utilizados para monitorar condições ambientais, estabilidade de barragens, vazamentos, movimentação de solo e muito mais.

Com o apoio de algoritmos de inteligência artificial, esses dados são analisados em tempo real para prever falhas, antecipar manutenções e garantir a integridade ambiental. Isso não apenas aumenta a eficiência da gestão ambiental e segurança, mas também fortalece o cumprimento de requisitos legais e a transparência com stakeholders.

Desenho de modelo de um veículo autônomo em uso. O veículo é representado em branco, o fundo é colorido.
Desenho de modelo de um veículo autônomo em uso

Práticas sustentáveis em gestão e responsabilidade social

1. Plano de fechamento de mina _ Confira o conteúdo sobre esse tema em nosso Instagram.

O fechamento de uma mina não é apenas o fim das atividades extrativas, mas o início de um novo ciclo para a área afetada. Um plano de fechamento bem estruturado inclui ações de reabilitação ambiental, como recuperação de vegetação nativa, controle de erosões e neutralização de passivos.

Além disso, pode envolver a conversão da área em outros usos econômicos ou sociais, como áreas de lazer, educação ambiental ou turismo. É fundamental que esse planejamento seja feito desde o início do projeto e atualizado ao longo do tempo, com a participação das partes interessadas, principalmente da comunidade afetada que poderá opinar sobre a nova destinação da área.

Em uma mina a céu aberto abandonada, painéis solares foram instalados em fileiras.
Uma usina solar em uma mina abandonada.

2. Relacionamento com comunidades locais

A convivência com comunidades do entorno é uma das dimensões mais sensíveis da mineração. A legislação brasileira, guias de boas práticas e tratados internacionais como a Convenção 169 da OIT exigem que comunidades tradicionais, povos indígenas e a população mais próxima sejam ouvidas e tenham seus direitos respeitados antes do início de qualquer empreendimento. No processo de licenciamento ambiental de empreendimentos causadores de impactos significativos, por exemplo, há uma etapa voltada para o diálogo com as partes interessadas: a audiência pública.

Práticas sustentáveis envolvem muito mais do que compensações financeiras: incluem diálogo constante, investimentos em infraestrutura, apoio à educação, capacitação profissional e estímulo ao empreendedorismo local. Empresas que atuam de forma transparente e colaborativa tendem a construir relações mais sólidas e resilientes com seus vizinhos.

 

3. Transparência e certificações

A adoção de certificações reconhecidas internacionalmente tem sido uma forma de demonstrar o compromisso das empresas com a sustentabilidade. O protocolo TSM (Towards Sustainable Mining), por exemplo, estabelece indicadores para gestão de riscos, segurança, biodiversidade e engajamento comunitário.

Padrões internacionais como a ISO 14001 (gestão ambiental), ISO 45001 (saúde e segurança do trabalho), a metodologia de relatórios da GRI (Global Reporting Initiative), o CERA 4in1 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) desempenham um papel fundamental no fortalecimento da governança corporativa e na ampliação da transparência das organizações.

O CERA 4in1, por exemplo, oferece evidências concretas de responsabilidade ambiental, social e de governança (ESG) para todos os tipos de minerais, em qualquer parte do mundo, sendo aplicável a empresas de todos os portes. Já a adoção dos ODS e dos demais padrões reforça o compromisso com uma atuação sustentável, ética e responsável.

Empresas alinhadas a essas diretrizes conquistam maior credibilidade e atraem com mais facilidade investidores, parceiros e clientes que valorizam o impacto socioambiental das operações.

 

 

Casos de sucesso no Brasil

  • Vale: a empresa tem adotado o empilhamento a seco como alternativa às barragens de rejeitos, com foco na segurança e na redução de riscos. Além disso, lidera projetos de energia renovável e inovação em logística, como a ferrovia eletrificada EFVM .
  • Samarco: a empresa investiu na construção de uma planta de filtragem de rejeitos, possibilitando o transporte do material por correias e o empilhamento controlado em áreas específicas, com o objetivo de eliminar o uso de novas barragens.
  • Anglo American: seu projeto Minas-Rio conta com um mineroduto de mais de 500 km, que transporta minério de ferro de Minas Gerais ao Porto do Açu com menor impacto logístico. A empresa também investe em biodiversidade e em programas com foco na equidade de gênero e inclusão social.
  • Kinross Paracatu: com foco em excelência operacional e responsabilidade social, mantém projetos de uso eficiente de água, capacitação de jovens e apoio a microempreendedores da região.
  • MRN (Mineração Rio do Norte): desenvolve iniciativas de reflorestamento e mantém parcerias com instituições de ensino para promover educação ambiental e qualificação técnica na região amazônica.
  • Vallourec: Possui iniciativas para tratamento dos rejeitos gerados, utilizando-os em matéria prima para produtos da construção civil como bloquetes, blocos, tijolos, telhas. Materiais que podem ser utilizados em casas, pavimentação etc.
Tijolos de Mariana em uma palete de madeira. Os tijolos foram marcados com um M.
Reprodução/ Tijolos de Mariana

Conclusão

A mineração sustentável é uma realidade crescente, impulsionada por pressões regulatórias, sociais e por oportunidades de inovação. Empresas que se adaptam não apenas reduzem seus riscos, mas também ganham em eficiência, reputação e acesso a financiamentos com melhores condições . Mais do que uma obrigação, adotar práticas sustentáveis tornou-se um diferencial competitivo no mercado mineral.

À medida que a sociedade cobra maior responsabilidade ambiental, a mineração se vê diante de uma escolha: resistir às mudanças ou liderar a transição para um modelo mais ético, eficiente e equilibrado. A boa notícia é que as ferramentas, tecnologias e o conhecimento já existem e estão em evolução. A mineração do futuro já começou, e ela é verde.

 

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